Era disso que eu precisava. Um chocolate quente, daqueles que quando a gente traz a xícara perto da boca, sente o ar quente aquecer o rosto. E ele, com toda a sua imensidão, com toda a sua beleza e com todo o seu encantamento, o mar. Só.
Sozinha. Já bastavam as vozes na minha própria cabeça a não me deixarem só, nem por um minuto. Não precisava de gente falando ao meu lado ou mesmo em silêncio. Não precisava de gente que não fosse eu.
Eu precisava me bastar naquele momento. Precisava olhar para o horizonte e encontrar comigo mesma, ou com o que foi de mim, ou com o que sobrou de mim. É que a gente vai se perdendo ao longo da vida. É como se algo que do fomos ontem, fosse ficando ao longo do caminho, até que nos deparamos com um novo eu.
Sim, isso é bom. Toda mudança é boa ou gera algo de positivo, mesmo que não a principio. Mas eu queria era resgatar o que fui, que faz falta no que sou. Resgatar os sonhos, os devaneios, os olhares puros e menos apreensivos, os amores perdidos, as amizades enterradas, a leveza do dia-a-dia, a calma dos passos. Cada gole de chocolate me fazia lembrar tudo o que desejava resgatar. Como se o ato de beber fizesse com que essas coisas entrassem em mim, misturadas ao doce do chocolate.
Sempre acreditei que o mar cura. Que ele pode levar e trazer o que a gente quiser. Não foi diferente aquele dia. Sentei ali, olhando para ele e vendo a mim mesma. Pedindo que ele trouxesse suavemente o que eu havia mandado embora outrora, mesmo que sem intenção.